Compreender o conceito de convergência é compreender o Tempo, o Grande Senhor, que se interpõe e, ao mesmo tempo, se sobrepõe à inexorável ordem de sucessão, de causas e efeitos. A complexidade do Tempo de convergência reside na assimilação da fusão do antes e do depois em um instante sempre presente. Em outras palavras, a convergência é a percepção individual e instantânea da multiplicidade, da ordem subjacente a desordem do caos ou, parafraseando o poeta da terra do sol, a convergência é reconciliação, na medida em que reintegra tudo que um dia foi separado do Grande Corpo, do Absoluto.
Hoje, mais do que nunca, a intelectualidade mundial é unânime ao reconhecer na trajetória literária do poeta mexicano, prêmio Nobel/1990, a correspondência de uma vida marcada por experiências profundas e altamente significativas, que foram instrumentos de preparação e de elaboração de uma visão de mundo onde a percepção, a sensibilidade e o amor absoluto à natureza da Natureza e à natureza da própria humanidade aparecem em primeiro plano. Antes, porém, de alcançar o reconhecimento da crítica, Paz trilhou um longo e, muitas vezes, tortuoso caminho. Ele participou das aventuras intelectuais e artísticas mais significativas do século XX: o marxismo e a filosofia de Heidegger, com a qual se familiarizou através da obra de Ortega y Gasset e das traduções que de Heidegger fez José Gaos, o estruturalismo, além de seu profundo interesse pela filosofia e cultura oriental, sobretudo, a indiana.
Paz inicia sua produção poética em 1933, com o livro Luna silvestre. A partir de Salamandra, 1962, ele se libera dos resquícios discursivos e parte para as definições mais ou menos precisas dos rumos da poesia. Em Blanco, 1968, aborda o tema da linguagem e em Ladera este, 1969, as definições se transformam em consumação ou em "convergência".
A visível incorporação da arte e da literatura orientais à poesia de Paz encontra em Ladera este a realização prática do mundo das analogias, da presença do esotérico e do erótico, da negação do tempo como discurso, da exaltação do instante e da negação das dicotomias. Tudo isso se funde na idéia do poema como corpo: “El cuerpo como transparência, como posibilidad de ejercer sobre él la lectura del mundo” (...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário