É preciso mais do que nunca criar um movimento em defesa de uma universidade política mas não partidária. Isto porque, a visão partidária infiltrada na universidade destrói as relações acadêmicas e inibe o desenvolvimento científico. É difícil para mim aceitar se fazer ciência contaminado por uma perspectiva unilateral de uma ideologia qualquer. A ciência se constrói na abertura para o improvável, o desconhecido, o invisível, o infinito, o misterioso e o incerto. E por causa disso, ela não deve e não pode ficar atrelada as premissas partidárias que fixam um modo rígido e histórico-unilateral de olhar para o fato social ou natural. Nesse sentido, um cientista partidário é uma aberração da natureza. Em verdade, ele é um charlatão e um oportunista porque utiliza-se do espaço acadêmico como palanque para semear a sua visão ideológica unilateral - existe nele um interesse corporativista pela conquista do poder de dominação ideológico das mentes discentes! Faz-se necessário, portanto, se distinguir e discutir o que é político, a-político e político-partidário. A universidade se apóia em três eixos básicos e três espaços de atuação. Os três eixos são: o político (que não é partidário!), o tecnológico e o científico. E os três espaços são: o ensino, a pesquisa e a extensão. Nesse contexto, o político é um eixo que permite ao cientista se inserir no mundo social no sentido de ajudá-lo para as transformações coletivas que se fazem necessárias objetivando o desenvolvimento humano. O espaço da extensão acadêmica atua diretamente na prática (praxes) nos processos sociais através de projetos onde o mundo acadêmico epistemológico se relaciona com o mundo público doxológico buscando uma unidade de ação e equilíbrio. E para tanto, o cientista necessita construir uma visão científica do mundo no intuito de perceber com mais propriedade e profundidade as causas, os limites, as características e as co-relações dos fenômenos que dão origem aos problemas sociais percebidos. E essa visão científica do mundo se constrói através do eixo científico (na ciência básica!) e no espaço da pesquisa fundamentada e instrumentalizada. Assim sendo, o olhar científico é construído pela práxis no esforço de ascensão da consciência do pesquisador que busca identificar as raízes naturais e essenciais dos fatos ou fenômenos até então incompreensíveis pela razão humana. Em outras palavras, todo esforço de compreensão da ciência é em síntese uma busca intuitiva na separação e identificação do que é aparência e do que é essência – a separação “do joio e do trigo”! E para alcançar esse intento maior necessita de ferramentas ou modelos de representação e de intervenção na observação, coleta e interpretação dos dados captados ou percebidos. É nesse momento que a ciência cria e se apóia na tecnologia para produzir e expandir uma sensibilidade fina do cientista. O eixo tecnológico se faz presente no ensino, na pesquisa e na extensão. A tecnologia é, portanto, a ferramenta idealizada na qual a ciência se apóia para olhar, provocar e experimentar a realidade que pretende conhecer e/ou modificar. A ação política da ciência ocorre quando a realidade - sendo um todo interdependente! - faz com que o cientista se sinta impelido a ser responsável pela sua preservação, conservação, integridade e aperfeiçoamento e por isso precisa empregar conscientemente modelos de tecnologias sociais mais modernos e mais éticos possíveis. E na medida que as tecnologias sociais são fabricadas utilizando-se de “materiais intelectuais” de baixa qualidade e/ou imperfeições, a intervenção da sensibilidade científica se torna reducionista e violenta operando um processo de destruição do fenômeno social-natural complexo estudado. Em outras palavras, o exercício da visão partidária (insensível) altera profundamente o olhar puro e nobre da ciência fazendo com que o objeto ou fenômeno seja percebido de uma forma completamente diferente, superficial e alterado do que ele é realmente. Ou seja, perde-se a capacidade de ver e compreender profunda e holisticamente um fato ou fenômeno em sua forma original, verdadeira ou essencial. Por tudo isso, o cientista verdadeiro não consegue ser a-político (sem política), porque o eixo político é o próprio lado social e existencial da natureza intuitiva humana em busca da unidade com o Todo Cósmico Universal. Em suma, o partidário parte e racionaliza ao máximo o cientista com perda da intuição sensível. O Prof. Miguel de Simoni (COPPE/UFRJ) era um exemplo de mestre com visão ampla, holística e não-partidária. Ele deixou saudades ao ser chamado por Deus em 2002. Ele era uma pessoa notável de saber e sensibilidade. A figura que inicia esse texto é capa de um livro elaborado por seus amigos (onde me incluo) da UFRJ/COPPE e outras universidades.
Prof. Bernardo Melgaço da Silva - bernardomelgaco@hotmail.com
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