Desde tempos remotos, o homem se questiona a respeito de sua existência: origem e destino de sua criação. De onde eu vim? O que sou e qual o sentido e significado da minha inserção nesse mundo? São perguntas que exigem respostas complexas e muitas das vezes impossíveis de serem verbalizadas. O homem diante das dificuldades inerentes em sua inserção e estada nesse mundo, buscou se esforçar e desenvolver suas potencialidades racionais e sensíveis humanas. O medo da morte e da sua extinção, a incerteza da continuação de sua consciência, o apego à materialidade da vida e a identidade formada pela relação psique-corpo físico, fizeram com que o homem se debruçasse sobre os fatos ou fenômenos e investigasse as suas relações no mundo que o cercava. Inicialmente criou um mundo de significados onde descrevia e explicava a sua existência por meio de narrativas baseadas em argumentos irracionais ou metafísicos. A esse momento os historiadores e filósofos denominaram de mitológico.
Em seguida, o homem percebeu - após longa busca metafísica de uma explicação turbulenta das origens da consciência, da vida e do universo – que a razão era um poder explicador que poderia salvá-lo de sua enorme angústia sobre a sua inserção e sofrimento no mundo. Por que tenho que sofrer? O sofrimento é contigente ou um caminho natural? Podemos ser felizes num mundo de sofrimentos e dificuldades naturais e sociais? O que é razão? O que é justiça? O que é o bem? O que é a verdade? A injustiça e as desigualdades sociais são algo inerentes à natureza humana ou são criadas pelo homem? A natureza é a fonte da existência humana? Existe uma essência de onde se origina tudo? O homem é um fenômeno da natureza ou sua condição existe a parte da natureza? A natureza governa o homem ou o homem pode governar a natureza? Essas indagações juntamente com outros tantos questionamentos de si próprio deram origem a um novo modo de explicar a realidade desse mundo. A esse momento particular deu-se o nome de filosofia: a arte de saber pelo amor à sabedoria ou a arte de amar sabiamente com fundamento. A filosofia coloca o homem como um sujeito indagador das leis, causas ou fundamentos de todo o processo de surgimento, evolução e decaimento da vida humana. Assim, durante séculos a filosofia foi, no mundo ocidental, um poder explicador sem igual.
Mas, por mais que o homem tentasse explicar a vida, a sua condição social e natural não alterava muito. O homem continuava inseguro, violento, egoísta, mesquinho, soberbo, injusto, cruel etc. A filosofia por si própria não conseguia dar um norte com suas explicações às calamidades naturais e as tragédias sociais: pestes, guerras, terremotos, suicídios, explorações, ganâncias, etc. Os problemas aumentavam de tamanho e gravidade. Surge, portanto, de forma inesperada um novo fenômeno judaico que marcou profundamente a vida social: o poder sobrenatural de Cristo. Ele abalou os alicerces da filosofia e introduziu novos argumentos irracionais de extrema importância: a imortalidade da alma ou a vida eterna, a ressurreição, a idéia da trindade, a idéia de Deus como um Pai Cósmico e Soberano, a idéia de Filho de Deus (Filho Divino diferente de Filho Humano) e principalmente a idéia de Amor Divino como fundamento da vida natural e social (Amai-vos uns aos outros como Eu vos Amei- Jesus Cristo). Se na filosofia ocidental grega a idéia de ética coloca o homem responsável pelas suas ações sociais na polis (a cidade-estado) do mundo natural, na visão cristã a idéia de transcendência (o Novo homem ou FILHO DO HOMEM) coloca o homem responsável pelas suas ações e destino sobrenatural (o prêmio do Amor Divino no Reino de Deus: “Não acumulais vosso tesouro na Terra. Aonde está o seu tesouro, aí tem-se o coração. Tesouro que nenhum ladrão pode roubar os as traças danificar”). Nesse contexto, o corpo humano é parte de uma natureza divina.
A partir desse momento religioso, a vida humana ficou dividida entre seguir o poder material e temporal da polis humana e ou o Poder Espiritual do Reino de Deus. A escolha deveria ser feita por cada um. Essa escolha era feita pela sensibilidade, fé e vontade de cada um. Por longos séculos, o modo de explicar cristão dominou o ocidente e fez da idéia de Deus um centro onde as psiques humanas giravam e gravitavam em torno e preso a ela. Mas, a partir do século XIII ou XIV, esse modo de argumentar, ver e agir no mundo começou a ser questionado. A situação social, política e econômica exigia um novo modelo de explicação, ou melhor, um novo paradigma existencial que servisse de base material e norte cultural para os movimentos burgueses e racionalistas daquele período. Até porque, os princípios cristãos se distanciavam de sua origem que era não-econômica (“Não podeis seguir a Deus e a Mamon [lucro]” – Jesus Cristo), mas sim de ordem transcendental. O dogma cristão pregava uma coisa e praticava outro! Assim, Lutero e Calvino percebendo essa incoerência e infidelidade aos verdadeiros princípios cristãos deram margem a criação de um movimento denominado PROTESTANTE. Houve resposta da Igreja, e muitos foram jogados na fogueira. A intolerância se alastrou em ambos domínios religioso e profano. O embate entre a “fé” (já decadente) e a racionalidade grega (ascendente) foi favorável a segunda. Nascia, portanto, um novo paradigma existencial: a razão especulativa que se apoiava na lógica formal e na experiência. A esse processo os intelectuais denominaram de CIÊNCIA. A ciência, era portanto, um caminho ou método de explicação racional e intervenção na realidade, que prometia o entendimento e controle das leis da natureza e cujo objetivo era uma vida segura e equilibrada para o homem ocidental (que vivia muito inseguro e infeliz!). Nesse período, três princípios-idéias foram alterados: Deus, Valor e Trabalho.
O surgimento da ciência moderna ocidental é um marco do renascimento das lógicas formal e material. A partir desse momento podemos identificar duas lógicas superiores atuantes: a lógica da razão e a lógica do “coração”. A primeira diz respeito a idéia aristotélica de se aproximar da verdade através do estudo da estrutura (padrão ou esquema básico) do pensamento e seus argumentos – a via curta moderna. A lógica do coração, a via longa tradicional, diz respeito à liberdade positiva (aristotélica) da sensibilidade na construção da visão de mundo. O poder racional introduziu, na via curta moderna, um novo modo de perceber, controlar e se relacionar com a natureza. A natureza perdeu o seu caráter sagrado e passou a ser um meio para se alcançar um fim utilitário. O homem começa a explorar a natureza no intuito de produzir mais-valia e bens materiais. A medida que o homem explora a natureza esquece-se de se colocar como tal e acaba explorando a si mesmo na figura do “outro” semelhante. E assim fortalece um modo de produção insensível carregado de retórica para justificar o progresso material e a construção do bem-estar social a qualquer custo. O homem moderno constrói um novo mundo tecnológico e altera um velho mundo de valores ontológicos sagrados. A educação perde o seu caráter de busca transcendental para servir ao propósito científico-tecnológico na materialidade da vida competitiva. A cooperação, via longa do coração, se torna um modelo político ultrapassado. A nova ordem é a satisfação psico-biológica e a ciência se presta para isso. A riqueza do Espírito é substituída pela pobreza da matéria na riqueza artificial da mais-valia e seus valores efêmeros. O homem se degenera e se torna mais violento e insensível do que antes produzindo duas guerras mundiais e imensos sofrimentos jamais vistos. O terror substitui o Amor!
Em seguida, o homem percebeu - após longa busca metafísica de uma explicação turbulenta das origens da consciência, da vida e do universo – que a razão era um poder explicador que poderia salvá-lo de sua enorme angústia sobre a sua inserção e sofrimento no mundo. Por que tenho que sofrer? O sofrimento é contigente ou um caminho natural? Podemos ser felizes num mundo de sofrimentos e dificuldades naturais e sociais? O que é razão? O que é justiça? O que é o bem? O que é a verdade? A injustiça e as desigualdades sociais são algo inerentes à natureza humana ou são criadas pelo homem? A natureza é a fonte da existência humana? Existe uma essência de onde se origina tudo? O homem é um fenômeno da natureza ou sua condição existe a parte da natureza? A natureza governa o homem ou o homem pode governar a natureza? Essas indagações juntamente com outros tantos questionamentos de si próprio deram origem a um novo modo de explicar a realidade desse mundo. A esse momento particular deu-se o nome de filosofia: a arte de saber pelo amor à sabedoria ou a arte de amar sabiamente com fundamento. A filosofia coloca o homem como um sujeito indagador das leis, causas ou fundamentos de todo o processo de surgimento, evolução e decaimento da vida humana. Assim, durante séculos a filosofia foi, no mundo ocidental, um poder explicador sem igual.
Mas, por mais que o homem tentasse explicar a vida, a sua condição social e natural não alterava muito. O homem continuava inseguro, violento, egoísta, mesquinho, soberbo, injusto, cruel etc. A filosofia por si própria não conseguia dar um norte com suas explicações às calamidades naturais e as tragédias sociais: pestes, guerras, terremotos, suicídios, explorações, ganâncias, etc. Os problemas aumentavam de tamanho e gravidade. Surge, portanto, de forma inesperada um novo fenômeno judaico que marcou profundamente a vida social: o poder sobrenatural de Cristo. Ele abalou os alicerces da filosofia e introduziu novos argumentos irracionais de extrema importância: a imortalidade da alma ou a vida eterna, a ressurreição, a idéia da trindade, a idéia de Deus como um Pai Cósmico e Soberano, a idéia de Filho de Deus (Filho Divino diferente de Filho Humano) e principalmente a idéia de Amor Divino como fundamento da vida natural e social (Amai-vos uns aos outros como Eu vos Amei- Jesus Cristo). Se na filosofia ocidental grega a idéia de ética coloca o homem responsável pelas suas ações sociais na polis (a cidade-estado) do mundo natural, na visão cristã a idéia de transcendência (o Novo homem ou FILHO DO HOMEM) coloca o homem responsável pelas suas ações e destino sobrenatural (o prêmio do Amor Divino no Reino de Deus: “Não acumulais vosso tesouro na Terra. Aonde está o seu tesouro, aí tem-se o coração. Tesouro que nenhum ladrão pode roubar os as traças danificar”). Nesse contexto, o corpo humano é parte de uma natureza divina.
A partir desse momento religioso, a vida humana ficou dividida entre seguir o poder material e temporal da polis humana e ou o Poder Espiritual do Reino de Deus. A escolha deveria ser feita por cada um. Essa escolha era feita pela sensibilidade, fé e vontade de cada um. Por longos séculos, o modo de explicar cristão dominou o ocidente e fez da idéia de Deus um centro onde as psiques humanas giravam e gravitavam em torno e preso a ela. Mas, a partir do século XIII ou XIV, esse modo de argumentar, ver e agir no mundo começou a ser questionado. A situação social, política e econômica exigia um novo modelo de explicação, ou melhor, um novo paradigma existencial que servisse de base material e norte cultural para os movimentos burgueses e racionalistas daquele período. Até porque, os princípios cristãos se distanciavam de sua origem que era não-econômica (“Não podeis seguir a Deus e a Mamon [lucro]” – Jesus Cristo), mas sim de ordem transcendental. O dogma cristão pregava uma coisa e praticava outro! Assim, Lutero e Calvino percebendo essa incoerência e infidelidade aos verdadeiros princípios cristãos deram margem a criação de um movimento denominado PROTESTANTE. Houve resposta da Igreja, e muitos foram jogados na fogueira. A intolerância se alastrou em ambos domínios religioso e profano. O embate entre a “fé” (já decadente) e a racionalidade grega (ascendente) foi favorável a segunda. Nascia, portanto, um novo paradigma existencial: a razão especulativa que se apoiava na lógica formal e na experiência. A esse processo os intelectuais denominaram de CIÊNCIA. A ciência, era portanto, um caminho ou método de explicação racional e intervenção na realidade, que prometia o entendimento e controle das leis da natureza e cujo objetivo era uma vida segura e equilibrada para o homem ocidental (que vivia muito inseguro e infeliz!). Nesse período, três princípios-idéias foram alterados: Deus, Valor e Trabalho.
O surgimento da ciência moderna ocidental é um marco do renascimento das lógicas formal e material. A partir desse momento podemos identificar duas lógicas superiores atuantes: a lógica da razão e a lógica do “coração”. A primeira diz respeito a idéia aristotélica de se aproximar da verdade através do estudo da estrutura (padrão ou esquema básico) do pensamento e seus argumentos – a via curta moderna. A lógica do coração, a via longa tradicional, diz respeito à liberdade positiva (aristotélica) da sensibilidade na construção da visão de mundo. O poder racional introduziu, na via curta moderna, um novo modo de perceber, controlar e se relacionar com a natureza. A natureza perdeu o seu caráter sagrado e passou a ser um meio para se alcançar um fim utilitário. O homem começa a explorar a natureza no intuito de produzir mais-valia e bens materiais. A medida que o homem explora a natureza esquece-se de se colocar como tal e acaba explorando a si mesmo na figura do “outro” semelhante. E assim fortalece um modo de produção insensível carregado de retórica para justificar o progresso material e a construção do bem-estar social a qualquer custo. O homem moderno constrói um novo mundo tecnológico e altera um velho mundo de valores ontológicos sagrados. A educação perde o seu caráter de busca transcendental para servir ao propósito científico-tecnológico na materialidade da vida competitiva. A cooperação, via longa do coração, se torna um modelo político ultrapassado. A nova ordem é a satisfação psico-biológica e a ciência se presta para isso. A riqueza do Espírito é substituída pela pobreza da matéria na riqueza artificial da mais-valia e seus valores efêmeros. O homem se degenera e se torna mais violento e insensível do que antes produzindo duas guerras mundiais e imensos sofrimentos jamais vistos. O terror substitui o Amor!
Prof. Bernardo Melgaço da Silva – e-mail: bernardomelgaco@ig.com.br
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