O reconhecimento da energia-consciência no processo de transcendência humana, e suas conseqüências sociais, dependerá do homem fazer ciência de si mesmo. Mas, cabe aqui algumas perguntas: O que é fazer ciência? Qual é a dimensão do seu desvelamento? Será que é descobrir um novo sentido para a vida? Ou será, que é desenvolver um novo modelo de explicação da realidade? Tem a função de comprovar uma teoria? Ou será algo muito mais do que isso? De onde vem o conhecimento científico? Vem do homem e do seu modo de observar a realidade? Ou será que vem de uma natureza transcendental? Já li várias e várias teorias a respeito do processo de produção de conhecimento científico. A maioria delas tem um ponto em comum: a razão. A maioria tem razão a respeito do modo de se fazer ciência.
Existem vários teóricos e filósofos da ciência. Uns dizem que o cientista é uma pessoa neutra que não tem emoções e desejos. Uma pessoa fria que está sempre pronta para olhar a realidade com a imparcialidade de um juíz de direito. Outros afirmam que o cientista é aquele sujeito introspectivo reservado e isolado em seu laboratório-mundo. E têm aqueles que dizem que o cientista é um procurador da verdade da natureza. Nesse contexto, a natureza é algo que possa sempre ser interrogada e ouvida sempre que se quiser representá-la. A teoria seria a carta de procuração da natureza dada ao cientista para representá-la numa situação e contexto de alienação de seus bens naturais.
Mas, o que é mesmo fazer ciência? Para que nos debruçamos sobre uma parte da realidade? Qual é o impulso que nos move em direção a busca científica? Será por que somos um ser questionador e interrogador por natureza de criação? Ou será por que somos um ser produtor de conhecimento? Ou melhor ainda por que somos uma natureza curiosa por novas descobertas e invenções? Podemos ver que existem diversas possibilidades para a questão do homem na ação de fazer ciência.
Qual é o objetivo da ciência? Será que é proporcionar ao homem uma melhor vida de conforto, paz e progresso social? Ou será o objetivo da ciência encontrar o caminho mais curto para se resolver o problema da fome, da miséria e da ignorância? Será que o objetivo da ciência é o poder? Ou será que é somente o saber? Ou as duas coisas? Ou será o objetivo da ciência construir gradativamente uma verdade a respeito da realidade que se oculta? Nesse caso, a realidade por estar encoberta com um espesso pano de mistério precisa de um modo especial para olhá-la escondida. Mas, porque a natureza teria que se esconder dos cientistas? Será por medo, por precaução ou por timidez?
Qual é o caminho da ciência? Será a ciência um caminho? Ou será que ela é O caminho? Como saber? Como podemos responder essas questões? Podemos usar o mesmo caminho da ciência para descobrir que a ciência é o caminho? Ou será que temos que fazer ciência para descobrir que não existe caminho além do caminho da própria ciência? Sinceramente acho essas questões um tanto complicadas. Ufa! Deixa eu sair desse caminho!
Num certo dia tentei ler e entender um caderno de textos sobre metodologia científica. Quando tentei me aprofundar a respeito dessas questões de cunho filosófico fiquei um pouco cansado mentalmente. Abri e reabri diversas vezes o caderno em qualquer página. E assim percebi que as explicações eram tantas que se tornava quase impossível definir um caminho claro de como fazer ciência. Descubri que Galileu pertencia ao naturalismo; F. Bacon ao empirismo; R. Descartes ao racionalismo; Kant ao criticismo; A. Comte ao positivismo; Husserl à fenomelogia; Popper ao neo-positivismo; K. Marx ao materialismo dialético; Sartre à filosofia existencialista; M. Foucault à arqueologia/genealogia. E ....
Para que tantas correntes de pensamentos? Será que apenas uma não daria conta do recado? Ou será que nem um milhão de correntes resolve esse problema de explicar porque o homem faz ciência? Será por que a natureza é extremamente complexa o que justificaria essa quantidade enorme de correntes de pensamentos e práticas científicas? Ou será que a complexidade está no interior do próprio homem? Ou será que é a fusão das duas coisas? Que caminho da ciência pode nos ajudar para responder essas duas últimas questões?
Será que a ciência não é um modo de comunicação do homem com a natureza? Ou será que é um modo de a natureza responder para o homem aquilo que não pode ser compreendido diretamente (naturalmente) pelo homem? Por isso se faz ciência! Se por hipótese (já estou eu usando o método científico) essa última afirmação é verdadeira então bastaria apenas o homem deixar de interrogar a natureza e esperar e aprender mais sobre a linguagem natural da natureza em seu exato momento de interrogar o homem. Surge aqui uma outra questão: o que é ser verdadeiro?
Será que o método nos conduz sempre a verdade? Ou será que a verdade transcende o método científico? Se a verdade transcende o método como podemos descobrir as leis verdadeiras utilizando o método? A menos que por hipótese admitamos que o método é superior a verdade. Aí tudo bem. Mas, se não for? Estariam então os cientistas mapeando uma cópia da realidade e não diretamente a própria realidade? Como podemos saber se a ciência está olhando para um espelho e não diretamente para o fenômeno? Com que sensibilidade? Uma sensibilidade maquinal? Uma sensibilidade reflexiva racional? Uma meditação? Uma oração? Ou não sabemos? (pode marcar um “x” na “questão correta”).
Será que fazer ciência é um modo de prever o futuro? Será o futuro algo sempre previsível? Por que queremos saber o futuro? Para agirmos com segurança no presente? Para evitarmos danos a espécie humana? Para prevenir contra a carência de recursos naturais essenciais ao homem? Ou será por que o homem é inseguro por natureza? E por isso tem medo de uma possível destruição ou ataque inimigo conhecido ou desconhecido? Ou será que não é nada disso, mas porque simplesmente o homem foi educado de geração em geração na cultura do futuro e por isso projeta uma expectativa exagerada? Como podemos saber a respeito da existência de um futuro certo? O método científico tem meios para responder essa delicada questão? Ou será que o futuro pertence ao domínio da fé? Ou será que o futuro a Deus pertence?
E a fé pode ser avaliada por um método que dúvida e questiona tudo? Quando é que o cientista tem que duvidar e quando é que ele tem que ter fé? A fé é um momento de ter ou um momento de ser? O método deve incluir tanto a fé quanto a dúvida? Como resolver o impasse de se agir em nome da fé duvidando? Ou se agir duvidando da fé? Por que será que Einstein afirmou “estudem a fé”? A fé pode ser estudada e analisada em sala de aula?
A ciência estaria livre do contexto da consciência? Ou a consciência livre no contexto da ciência? O cientista é um ser consciente de sua liberdade de fazer ciência? Será que o cientista sabe reconhecer o limite e a relação entre as formas de energia que ele busca compreender e a sua própria consciência? Ele sabe de fato distinguir a diferença sutil entre a liberdade e a responsabilidade? Ou será que ele não sabe porque não foi preparado para saber? Ou será que foi preparado e mesmo assim não quer definir para si mesmo qual é a diferença? Ou será que a diferença é tão sutil que o método científico é incapaz de ajudá-lo? Seria o cientista vítima da sua própria ciência insensível e racional? Ou será que ele não tem que se preocupar com isso? Ou será que ele já sabe desde que nasceu? E por isso ele sabe sempre que nunca vai acontecer um dano acidental (p.ex.: guerra nuclear ou poluição ambiental generalizada) ou intencional ao homem e à sociedade.
Será a ciência capaz de oferecer também uma base moral às pessoas? Ou será que essa base moral não pode ser definida pelo método científico? Como saber? A ciência pode viver alheia a essa questão? Ou será que essa questão deveria ser a prioridade número um dos cientistas? Pode a ciência produzir algo de bom e duradouro sem saber se é eticamente válido? Fabricar armas é ético ou anti-ético? Fazer do ser humano uma cobaia viva é ético ou anti-ético? O sofrimento alheio é parte também da ciência? Clonar seres humanos é ético ou não é ético? A ética é apenas um fator socio-cultural? A ética é apenas uma questão econômica? Ou será que ética é uma questão apenas conceitual? Será que existe uma definição adequada e esclarecedora? Será que ética são regras sociais? Ou será que não pode ser definida no contexto da razão? Como podemos saber?
Mas, o que é mesmo fazer ciência? Será que é buscar a inspiração em Deus? A ciência admite a existência de Deus como Criador e legislador das leis do universo? Por que será que Cristo disse que devíamos separar o joio do trigo? Será o joio essa inspiração divina? E o trigo a nossa vaidade humana? Como podemos saber? Se o joio é a mente divina como fica a nossa postura ética perante a vida e o conhecimento da vida? Podemos fazer qualquer coisa em nome da ciência? Não seria melhor fazer em nome e com a vontade de Deus? Por que tantas guerras e crimes num mundo “evoluído” tecnologicamente? O ato de fazer ciência moderna estaria isento desses graves problemas humanos? Qual a possibilidade do homem se autodestruir sem a separação do joio e do trigo na ação de se fazer ciência sem consciência?
( ) nenhuma
( ) dez porcento de chance
( ) cinqüenta porcento
( ) cem porcento
( ) não me interessa
( ) estou preocupado com outras coisas mais importantes
( ) isso nunca vai acontecer
( ) o homem sempre teve bom senso de sua preservação
( ) a paz virá no equilíbrio de armas atômicas, químicas e biológicas
( ) o homem sempre esteve em conflito - é natural!
( ) não sei o que fazer
Pode marcar um “x” na resposta que melhor lhe convier. E depois espere o que vai acontecer com o planeta caso continuemos destruindo nossa casa (eco)...
Qual é o fim da ciência afinal? Creio, ser bastante complicado dar uma definição concreta do que seja a finalidade da ciência: "Ciência sem consciência é a ruína da alma" - Rabelais. Para mim, é mais fácil dizer o que ela não é - o que não se propõe a realizar. Ela não é uma busca aleatória, mas um esforço sistematizado, estruturado e disciplinado. Ela não se propõe a descobrir o domínio da energia divina e do poder da Consciência-de-Deus. O contexto da ciência (racional-funcional) é o domínio da existência racional e da realidade objetiva. O que todas as ciências buscam é a verdade proveniente de um nível de consciência que dá sentido e significado à existência e à realidade do ser concreto: o indivíduo imbricado com o poder da energia do mundo material. E o que é "verdade"? A verdade é o próprio caminho de se fazer ciência com consciência. Em outras palavras, é o próprio "caminhar", ou seja, é a ação da consciência em sua jornada de transcendência de si mesma. Nesse sentido, a verdade não pode ser definida porque ela transcende qualquer discurso racional. Ela é indizível, mas existe num contexto ontológico. Ela só pode ser vivida ("percorrida") mas nunca dita ou afirmada de forma absoluta. "Primum vivere, deinde philosophari" (Primeiro viver e depois filosofar).
Segundo Moacir GADOTTI (Comunicação docente, 1975):
"Cada homem tende para a verdade, tem impulso para a verdade, possui em si uma exigência de verdade, mas a verdade de cada homem nunca é a verdade, pois esta não é fruto de posse mas fruto de "tensão" para a verdade. Assim, "o sentido da verdade, para cada homem, é a sua luta pelo absoluto, a sua luta contra o absoluto" (p.83).
Ó senhora Verdade quantas faces o homem não criou para Ti! São tantas faces (política, tecnológica, científica, religiosa, mística, espírita, evangélica, etc) que não sabemos naturalmente dizer qual é a sua própria identidade. Mas, com um pouco de esforço de abstração podemos classificá-la em duas: a lógica e a ontológica. A verdade lógica é aquela construída pelo processo dialógico psicológico do ser com o mundo - é a verdade da razão. E a verdade ontológica é aquela criada pelo processo dialógico do ser consigo mesmo (o Outro em si mesmo), é a verdade da revelação.
Descobri que Einstein (ele dizia que ouvia o "Velho"), Descartes ("busquei o falso e o verdadeiro dentro de mim") e Marx ("a religião é a consciência de si que o homem perdeu ou não adquiriu ainda") tiveram algo em comum: descobriram a verdade revelada na consciência-visão de si mesmo. Eles evoluiram da consciência do mundo racional para a consciência de si (supra-racional), ou seja, eles conseguiram realizar a façanha de dar o salto-dialógico (quântico) ontológico em si mesmo. A maioria das tradições orientais fala desse salto e diálogo evolutivo. O hinduismo, Brahmanismo, os contos sufis e o próprio cristianismo apontam para esse caminho. Que caminho é esse? Ou melhor, que ciência é essa? Para identificarmos esse modo de fazer ciência faz-se necessário olhar o domínio da ciência com outros olhos, ou seja, com outra sensibilidade (não confundir com emocionalidade). A ciência pode ser dividida quanto à natureza do (da):
a) objeto (ciência natural e ciência social);
b) problema (ciência pura e ciência aplicada);
c) realização (ciência do mundo e ciência do ser).
Nesse sentido, podemos facilmente perceber algumas diferenças básicas. Assim, é fácil perceber que uma mesa não chora, não tem depressão, não tem mágoa, não se irrita, e nem reclama de ninguém. Esses comportamentos fazem parte da natureza da energia-consciência humana, ou seja, faz parte do objeto de estudo das ciências humanas ou sociais. E da mesma forma, se um sujeito tem dificuldade em resolver o problema da falta de água em sua residência, sabendo que muito próximo de sua casa tem um rio de água potável, ele não vai investigar - durante anos a fio! - a origem do universo e o segredo do cosmos para tentar descobrir uma técnica que possibilite transportar a água até a sua casa. A busca do segredo do cosmo faz parte do contexto das ciências puras (básicas), enquanto que a descoberta de uma técnica que facilite a condução da água faz parte das ciências aplicadas (a informática é uma ciência aplicada enquanto que os fundamentos da física quântica (que deu origem à micro-eletrônica e a informática) é do domínio da ciência pura).
E quanto a questão da realização é preciso especificar o sentido de transformação. Assim, se o indivíduo se sente insatisfeito e desconfortado com a construção de sua casa, ele não vai buscar uma montanha para meditar a respeito de sua inserção no mundo social. Ele certamente precisará estudar (ou contratar alguém) para realizar um novo projeto de construção de casa com a intenção de fazer adaptações ou para construir uma nova casa. A busca do silêncio e da paz da montanha faz parte do domínio da ciência tradicional (transformação do ser), enquanto que a transformação de um projeto de casa numa construção em alvenaria com todas as facilidades da tecnologia moderna faz parte do contexto da ciência moderna (transformação do mundo).
A crise do homem moderno sempre foi em decorrência da sua incapacidade de identificar o modo apropriado de fazer ciência (tomar consciência) de acordo com o limite da sua observação do objeto a ser abordado, da formulação e definição do problema e das expectativas de sua realização. O que buscar? O que compreender? O que ou quem transformar? Uma vez o homem tendo tomado consciência de si, essas questões ficam mais claramente definidas. A questão, portanto, passa a ser: o que eu quero transformar, a dinâmica do mundo ou a energia do ser? Qual é a natureza do meu problema, concreta ou abstrata? E qual é o objeto da minha investigação, natural ou social? Creio, que a partir daí o homem não mais se perde na eterna busca da verdade da realidade e da existência. Em outras palavras, a pessoa se torna verdadeiramente cientista, ou seja, aquela que busca a verdade conscientemente por puro amor ao saber filosófico. Por isso mesmo, Sócrates afirmou com muita propriedade e sabedoria: "Conhece-te a ti mesmo". O realismo ingênuo é querer ver e conhecer o mundo ignorando a imagem e a compreensão que tem de si mesmo.
A mudança de natureza da sensibilidade e a conseqüente leitura de novos princípios superiores proporcionará ao homem a construção qualitativa de imagens reais do mundo como resultado do melhoramento das imagens reais de nós mesmos.
O sentido da vida tem o seu mistério desvendado quando damos orientação a nossa própria transformação da energia interior a partir da constatação do processo dialógico ontológico. A água ferve porque recebe calor. O homem age no presente porque no passado em seu interior a sua ação intelectual teve significado e valor. Ele não age apenas por um impulso de causa-efeito, mas porque dotado de consciência se insere num universo de significados complexos encadeados e sutilmente interligados em milhões de contextos energéticos - desde a sua criação que foi feita com puro Amor! Já dizia um sábio: "Qualquer homem é a última palavra do passado e a primeira do futuro".
A descoberta dos princípios criadores-transformadores do universo é um ato de fé, vontade e sensibilidade. A verdadeira inteligência é filha desses princípios ontológicos: "Nada se cria, nada se perde. Tudo se transforma" - Lavoisier. Mais vale aquele que age com virtude do que aquele que fala sem consciência do que diz ser e ver: "Estudem a fé" - A. Einstein. "Audiens sapiens, sapientior erit" (Ainda que saibas, ouvindo [ontologicamente] saberás mais).
"A filosofia que se tem depende do homem que se é" - Fichte.
Existem vários teóricos e filósofos da ciência. Uns dizem que o cientista é uma pessoa neutra que não tem emoções e desejos. Uma pessoa fria que está sempre pronta para olhar a realidade com a imparcialidade de um juíz de direito. Outros afirmam que o cientista é aquele sujeito introspectivo reservado e isolado em seu laboratório-mundo. E têm aqueles que dizem que o cientista é um procurador da verdade da natureza. Nesse contexto, a natureza é algo que possa sempre ser interrogada e ouvida sempre que se quiser representá-la. A teoria seria a carta de procuração da natureza dada ao cientista para representá-la numa situação e contexto de alienação de seus bens naturais.
Mas, o que é mesmo fazer ciência? Para que nos debruçamos sobre uma parte da realidade? Qual é o impulso que nos move em direção a busca científica? Será por que somos um ser questionador e interrogador por natureza de criação? Ou será por que somos um ser produtor de conhecimento? Ou melhor ainda por que somos uma natureza curiosa por novas descobertas e invenções? Podemos ver que existem diversas possibilidades para a questão do homem na ação de fazer ciência.
Qual é o objetivo da ciência? Será que é proporcionar ao homem uma melhor vida de conforto, paz e progresso social? Ou será o objetivo da ciência encontrar o caminho mais curto para se resolver o problema da fome, da miséria e da ignorância? Será que o objetivo da ciência é o poder? Ou será que é somente o saber? Ou as duas coisas? Ou será o objetivo da ciência construir gradativamente uma verdade a respeito da realidade que se oculta? Nesse caso, a realidade por estar encoberta com um espesso pano de mistério precisa de um modo especial para olhá-la escondida. Mas, porque a natureza teria que se esconder dos cientistas? Será por medo, por precaução ou por timidez?
Qual é o caminho da ciência? Será a ciência um caminho? Ou será que ela é O caminho? Como saber? Como podemos responder essas questões? Podemos usar o mesmo caminho da ciência para descobrir que a ciência é o caminho? Ou será que temos que fazer ciência para descobrir que não existe caminho além do caminho da própria ciência? Sinceramente acho essas questões um tanto complicadas. Ufa! Deixa eu sair desse caminho!
Num certo dia tentei ler e entender um caderno de textos sobre metodologia científica. Quando tentei me aprofundar a respeito dessas questões de cunho filosófico fiquei um pouco cansado mentalmente. Abri e reabri diversas vezes o caderno em qualquer página. E assim percebi que as explicações eram tantas que se tornava quase impossível definir um caminho claro de como fazer ciência. Descubri que Galileu pertencia ao naturalismo; F. Bacon ao empirismo; R. Descartes ao racionalismo; Kant ao criticismo; A. Comte ao positivismo; Husserl à fenomelogia; Popper ao neo-positivismo; K. Marx ao materialismo dialético; Sartre à filosofia existencialista; M. Foucault à arqueologia/genealogia. E ....
Para que tantas correntes de pensamentos? Será que apenas uma não daria conta do recado? Ou será que nem um milhão de correntes resolve esse problema de explicar porque o homem faz ciência? Será por que a natureza é extremamente complexa o que justificaria essa quantidade enorme de correntes de pensamentos e práticas científicas? Ou será que a complexidade está no interior do próprio homem? Ou será que é a fusão das duas coisas? Que caminho da ciência pode nos ajudar para responder essas duas últimas questões?
Será que a ciência não é um modo de comunicação do homem com a natureza? Ou será que é um modo de a natureza responder para o homem aquilo que não pode ser compreendido diretamente (naturalmente) pelo homem? Por isso se faz ciência! Se por hipótese (já estou eu usando o método científico) essa última afirmação é verdadeira então bastaria apenas o homem deixar de interrogar a natureza e esperar e aprender mais sobre a linguagem natural da natureza em seu exato momento de interrogar o homem. Surge aqui uma outra questão: o que é ser verdadeiro?
Será que o método nos conduz sempre a verdade? Ou será que a verdade transcende o método científico? Se a verdade transcende o método como podemos descobrir as leis verdadeiras utilizando o método? A menos que por hipótese admitamos que o método é superior a verdade. Aí tudo bem. Mas, se não for? Estariam então os cientistas mapeando uma cópia da realidade e não diretamente a própria realidade? Como podemos saber se a ciência está olhando para um espelho e não diretamente para o fenômeno? Com que sensibilidade? Uma sensibilidade maquinal? Uma sensibilidade reflexiva racional? Uma meditação? Uma oração? Ou não sabemos? (pode marcar um “x” na “questão correta”).
Será que fazer ciência é um modo de prever o futuro? Será o futuro algo sempre previsível? Por que queremos saber o futuro? Para agirmos com segurança no presente? Para evitarmos danos a espécie humana? Para prevenir contra a carência de recursos naturais essenciais ao homem? Ou será por que o homem é inseguro por natureza? E por isso tem medo de uma possível destruição ou ataque inimigo conhecido ou desconhecido? Ou será que não é nada disso, mas porque simplesmente o homem foi educado de geração em geração na cultura do futuro e por isso projeta uma expectativa exagerada? Como podemos saber a respeito da existência de um futuro certo? O método científico tem meios para responder essa delicada questão? Ou será que o futuro pertence ao domínio da fé? Ou será que o futuro a Deus pertence?
E a fé pode ser avaliada por um método que dúvida e questiona tudo? Quando é que o cientista tem que duvidar e quando é que ele tem que ter fé? A fé é um momento de ter ou um momento de ser? O método deve incluir tanto a fé quanto a dúvida? Como resolver o impasse de se agir em nome da fé duvidando? Ou se agir duvidando da fé? Por que será que Einstein afirmou “estudem a fé”? A fé pode ser estudada e analisada em sala de aula?
A ciência estaria livre do contexto da consciência? Ou a consciência livre no contexto da ciência? O cientista é um ser consciente de sua liberdade de fazer ciência? Será que o cientista sabe reconhecer o limite e a relação entre as formas de energia que ele busca compreender e a sua própria consciência? Ele sabe de fato distinguir a diferença sutil entre a liberdade e a responsabilidade? Ou será que ele não sabe porque não foi preparado para saber? Ou será que foi preparado e mesmo assim não quer definir para si mesmo qual é a diferença? Ou será que a diferença é tão sutil que o método científico é incapaz de ajudá-lo? Seria o cientista vítima da sua própria ciência insensível e racional? Ou será que ele não tem que se preocupar com isso? Ou será que ele já sabe desde que nasceu? E por isso ele sabe sempre que nunca vai acontecer um dano acidental (p.ex.: guerra nuclear ou poluição ambiental generalizada) ou intencional ao homem e à sociedade.
Será a ciência capaz de oferecer também uma base moral às pessoas? Ou será que essa base moral não pode ser definida pelo método científico? Como saber? A ciência pode viver alheia a essa questão? Ou será que essa questão deveria ser a prioridade número um dos cientistas? Pode a ciência produzir algo de bom e duradouro sem saber se é eticamente válido? Fabricar armas é ético ou anti-ético? Fazer do ser humano uma cobaia viva é ético ou anti-ético? O sofrimento alheio é parte também da ciência? Clonar seres humanos é ético ou não é ético? A ética é apenas um fator socio-cultural? A ética é apenas uma questão econômica? Ou será que ética é uma questão apenas conceitual? Será que existe uma definição adequada e esclarecedora? Será que ética são regras sociais? Ou será que não pode ser definida no contexto da razão? Como podemos saber?
Mas, o que é mesmo fazer ciência? Será que é buscar a inspiração em Deus? A ciência admite a existência de Deus como Criador e legislador das leis do universo? Por que será que Cristo disse que devíamos separar o joio do trigo? Será o joio essa inspiração divina? E o trigo a nossa vaidade humana? Como podemos saber? Se o joio é a mente divina como fica a nossa postura ética perante a vida e o conhecimento da vida? Podemos fazer qualquer coisa em nome da ciência? Não seria melhor fazer em nome e com a vontade de Deus? Por que tantas guerras e crimes num mundo “evoluído” tecnologicamente? O ato de fazer ciência moderna estaria isento desses graves problemas humanos? Qual a possibilidade do homem se autodestruir sem a separação do joio e do trigo na ação de se fazer ciência sem consciência?
( ) nenhuma
( ) dez porcento de chance
( ) cinqüenta porcento
( ) cem porcento
( ) não me interessa
( ) estou preocupado com outras coisas mais importantes
( ) isso nunca vai acontecer
( ) o homem sempre teve bom senso de sua preservação
( ) a paz virá no equilíbrio de armas atômicas, químicas e biológicas
( ) o homem sempre esteve em conflito - é natural!
( ) não sei o que fazer
Pode marcar um “x” na resposta que melhor lhe convier. E depois espere o que vai acontecer com o planeta caso continuemos destruindo nossa casa (eco)...
Qual é o fim da ciência afinal? Creio, ser bastante complicado dar uma definição concreta do que seja a finalidade da ciência: "Ciência sem consciência é a ruína da alma" - Rabelais. Para mim, é mais fácil dizer o que ela não é - o que não se propõe a realizar. Ela não é uma busca aleatória, mas um esforço sistematizado, estruturado e disciplinado. Ela não se propõe a descobrir o domínio da energia divina e do poder da Consciência-de-Deus. O contexto da ciência (racional-funcional) é o domínio da existência racional e da realidade objetiva. O que todas as ciências buscam é a verdade proveniente de um nível de consciência que dá sentido e significado à existência e à realidade do ser concreto: o indivíduo imbricado com o poder da energia do mundo material. E o que é "verdade"? A verdade é o próprio caminho de se fazer ciência com consciência. Em outras palavras, é o próprio "caminhar", ou seja, é a ação da consciência em sua jornada de transcendência de si mesma. Nesse sentido, a verdade não pode ser definida porque ela transcende qualquer discurso racional. Ela é indizível, mas existe num contexto ontológico. Ela só pode ser vivida ("percorrida") mas nunca dita ou afirmada de forma absoluta. "Primum vivere, deinde philosophari" (Primeiro viver e depois filosofar).
Segundo Moacir GADOTTI (Comunicação docente, 1975):
"Cada homem tende para a verdade, tem impulso para a verdade, possui em si uma exigência de verdade, mas a verdade de cada homem nunca é a verdade, pois esta não é fruto de posse mas fruto de "tensão" para a verdade. Assim, "o sentido da verdade, para cada homem, é a sua luta pelo absoluto, a sua luta contra o absoluto" (p.83).
Ó senhora Verdade quantas faces o homem não criou para Ti! São tantas faces (política, tecnológica, científica, religiosa, mística, espírita, evangélica, etc) que não sabemos naturalmente dizer qual é a sua própria identidade. Mas, com um pouco de esforço de abstração podemos classificá-la em duas: a lógica e a ontológica. A verdade lógica é aquela construída pelo processo dialógico psicológico do ser com o mundo - é a verdade da razão. E a verdade ontológica é aquela criada pelo processo dialógico do ser consigo mesmo (o Outro em si mesmo), é a verdade da revelação.
Descobri que Einstein (ele dizia que ouvia o "Velho"), Descartes ("busquei o falso e o verdadeiro dentro de mim") e Marx ("a religião é a consciência de si que o homem perdeu ou não adquiriu ainda") tiveram algo em comum: descobriram a verdade revelada na consciência-visão de si mesmo. Eles evoluiram da consciência do mundo racional para a consciência de si (supra-racional), ou seja, eles conseguiram realizar a façanha de dar o salto-dialógico (quântico) ontológico em si mesmo. A maioria das tradições orientais fala desse salto e diálogo evolutivo. O hinduismo, Brahmanismo, os contos sufis e o próprio cristianismo apontam para esse caminho. Que caminho é esse? Ou melhor, que ciência é essa? Para identificarmos esse modo de fazer ciência faz-se necessário olhar o domínio da ciência com outros olhos, ou seja, com outra sensibilidade (não confundir com emocionalidade). A ciência pode ser dividida quanto à natureza do (da):
a) objeto (ciência natural e ciência social);
b) problema (ciência pura e ciência aplicada);
c) realização (ciência do mundo e ciência do ser).
Nesse sentido, podemos facilmente perceber algumas diferenças básicas. Assim, é fácil perceber que uma mesa não chora, não tem depressão, não tem mágoa, não se irrita, e nem reclama de ninguém. Esses comportamentos fazem parte da natureza da energia-consciência humana, ou seja, faz parte do objeto de estudo das ciências humanas ou sociais. E da mesma forma, se um sujeito tem dificuldade em resolver o problema da falta de água em sua residência, sabendo que muito próximo de sua casa tem um rio de água potável, ele não vai investigar - durante anos a fio! - a origem do universo e o segredo do cosmos para tentar descobrir uma técnica que possibilite transportar a água até a sua casa. A busca do segredo do cosmo faz parte do contexto das ciências puras (básicas), enquanto que a descoberta de uma técnica que facilite a condução da água faz parte das ciências aplicadas (a informática é uma ciência aplicada enquanto que os fundamentos da física quântica (que deu origem à micro-eletrônica e a informática) é do domínio da ciência pura).
E quanto a questão da realização é preciso especificar o sentido de transformação. Assim, se o indivíduo se sente insatisfeito e desconfortado com a construção de sua casa, ele não vai buscar uma montanha para meditar a respeito de sua inserção no mundo social. Ele certamente precisará estudar (ou contratar alguém) para realizar um novo projeto de construção de casa com a intenção de fazer adaptações ou para construir uma nova casa. A busca do silêncio e da paz da montanha faz parte do domínio da ciência tradicional (transformação do ser), enquanto que a transformação de um projeto de casa numa construção em alvenaria com todas as facilidades da tecnologia moderna faz parte do contexto da ciência moderna (transformação do mundo).
A crise do homem moderno sempre foi em decorrência da sua incapacidade de identificar o modo apropriado de fazer ciência (tomar consciência) de acordo com o limite da sua observação do objeto a ser abordado, da formulação e definição do problema e das expectativas de sua realização. O que buscar? O que compreender? O que ou quem transformar? Uma vez o homem tendo tomado consciência de si, essas questões ficam mais claramente definidas. A questão, portanto, passa a ser: o que eu quero transformar, a dinâmica do mundo ou a energia do ser? Qual é a natureza do meu problema, concreta ou abstrata? E qual é o objeto da minha investigação, natural ou social? Creio, que a partir daí o homem não mais se perde na eterna busca da verdade da realidade e da existência. Em outras palavras, a pessoa se torna verdadeiramente cientista, ou seja, aquela que busca a verdade conscientemente por puro amor ao saber filosófico. Por isso mesmo, Sócrates afirmou com muita propriedade e sabedoria: "Conhece-te a ti mesmo". O realismo ingênuo é querer ver e conhecer o mundo ignorando a imagem e a compreensão que tem de si mesmo.
A mudança de natureza da sensibilidade e a conseqüente leitura de novos princípios superiores proporcionará ao homem a construção qualitativa de imagens reais do mundo como resultado do melhoramento das imagens reais de nós mesmos.
O sentido da vida tem o seu mistério desvendado quando damos orientação a nossa própria transformação da energia interior a partir da constatação do processo dialógico ontológico. A água ferve porque recebe calor. O homem age no presente porque no passado em seu interior a sua ação intelectual teve significado e valor. Ele não age apenas por um impulso de causa-efeito, mas porque dotado de consciência se insere num universo de significados complexos encadeados e sutilmente interligados em milhões de contextos energéticos - desde a sua criação que foi feita com puro Amor! Já dizia um sábio: "Qualquer homem é a última palavra do passado e a primeira do futuro".
A descoberta dos princípios criadores-transformadores do universo é um ato de fé, vontade e sensibilidade. A verdadeira inteligência é filha desses princípios ontológicos: "Nada se cria, nada se perde. Tudo se transforma" - Lavoisier. Mais vale aquele que age com virtude do que aquele que fala sem consciência do que diz ser e ver: "Estudem a fé" - A. Einstein. "Audiens sapiens, sapientior erit" (Ainda que saibas, ouvindo [ontologicamente] saberás mais).
"A filosofia que se tem depende do homem que se é" - Fichte.
Prof. Bernardo Melgaço da Silva - bernardomelgaco@hotmail.com
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