TESTEMUNHO QUE
DEUS É AMOR
(trechos do livro
“Teilhard, Testemunha do Amor”)
Pode
o homem fazer o que quiser. Jamais poderá escapar às conseqüências de sua
natureza superior que o obrigam, sob pena de desequilíbrio, a situar-se no
nível superior do amor consciente. O relativismo sociológico poderia fazer crer
que aquele que aceita as injustiças e as desigualdades sociais está no
desequilíbrio. Tal não pode ser. As condições biossociológicas são tais que o
escravo, situado abaixo do mínimum vital para todas as necessidades e sobretudo
as necessidades espirituais do indivíduo, está desequilibrado; o mesmo, porém,
se dá com o tirano que se põe acima da condição humana fazendo-se
todo-poderoso. Obedecer às leis da amorização está na base da sabedoria social
e política, como da inconsciente sabedoria do corpo.
“Sofremos
e nos inquietamos verificando que as tentativas modernas de coletivização
humana, contrariamente às previsões da teoria e ao que esperávamos, não
resultam senão num rebaixamento e numa escravização das consciências...Somente
o amor, pela boa razão de que somente ele toma e une os seres pelo fundo de si
mesmos, é capaz - como o mostra a experiência cotidiana - de consumar os seres
enquanto seres, reunindo-os. A que momento, com efeito, dois amantes atingem a
mais completa posse de si mesmos senão naquele momento em que se dizem perdidos
um no outro? Realmente o gesto mágico, o gesto tido como contraditório de
“personalizar” totalizando, o amor o não realiza a cada instante, no casal, na
equipe, ao nosso redor? E o que ele opera assim cotidiamente numa escala
reduzida, por que não o haveria de repetir um dia nas dimensões da Terra? A
Humanidade; o Espírito da Terra; a Síntese dos indivíduos e dos povos; a
Conciliação paradoxal do Elemento e do Todo, da Unidade e da Multidão: para que
essas coisas ditas utópicas, e no entanto biologicamente necessárias, tomem
corpo no mundo, não bastaria imaginar que nosso poder de amar se desenvolva até
abraçar a totalidade do homem e da Terra? ...Um amor universal: não é o único
modo completo e final como possamos amar”.
...O
homem é homem desde a origem, isto é, no grau superior do amor; mas
diferentemente do animal que, obedecendo a seus instintos, tem pouca
necessidade de aprender a conhecê-los e realizá-los corretamente. O drama de
certa educação técnica está exatamente em minimizar os valores essenciais do
coração. Opõem-se ou se justapõem-se a razão superior e o sentimento inferior e
se esquece que, no homem, o coração, o amor não são a afetividade elementar
inferior irracional, mas a união a um nível superior do racional [intuição] e do
afetivo, graças ao cérebro pré-frontal humano, que dá à reflexão sua dimensão
completa, da ordem do amor.
...A
criação não é o gesto de um artífice humano, mas a dependência metafísica de
todo o criado. As leis do aparente materialismo científico não se opõem ao
verdadeiro Deus que antes impõem logicamente. São as leis da criação. Aquele
que crê em Deus Amor encontra o amor no mundo, mas aquele que encontrou o amor
no mundo tem a confirmação científica de que Deus é Amor.
...
Assim sendo, o amor é o segredo do mundo e não nos resta mais escolha senão
amar ou perecer. Mas não sabemos o que é o amor (pp.34-50).
(CHAUCHARD, Paul - Teilhard,
Testemunha de Amor, Cadernos Teilhard 13, s.ed., Petrópolis-RJ, Vozes, 1967,
pp.52, Trad.: Frei Eliseu Lopes, O.P.).
Nenhum comentário:
Postar um comentário