A INCONTROLÁVEL VONTADE DE ESCREVER
O que
motiva uma pessoa a escrever durante quinze anos consecutivos? É uma pergunta
que me faço. No meu caso em particular, é uma força incontrolável que brota ou
surge misteriosamente de dentro de mim. E tudo começou – mesmo! - em 1988, após uma grande crise espiritual
onde pude constatar a existência de uma dualidade-polaridade de identidade. Ou
seja, constatei que eu não era Eu. E que Eu era muito mais do que eu. Duas
identidades em busca de uma unidade cósmica. Algo fantástico! E eu ignorei a
minha outra natureza-identidade durante muito tempo ou vidas. Ignorei a
existência da minha contra-parte que era Eu. Estranho? Sim, mas verdadeiro e
profundo. Uma natureza-identidade estava ligada à natureza e ao universo (Physis)
e a outra ligada ao mundo e a cultura. Uma é a-temporal, transcendente e
pessoal, a outra é temporal, imanente e individual. Por vários meses e anos –
de 1988 para cá - vivi em dois mundos e
duas realidades que se complementavam e buscavam uma harmonia numa dimensão
ontológica (supra-psicológica). Então, como negar algo que não é mais
inconsciente e invisível? Algo que está presente o tempo todo falando e
orientando-me. Algo que eu não sei explicar como em mim entrou e como em mim
viveu, cresceu e que nunca vai morrer. Eis o mistério da consciência de si!
Estar consciente de si, não é apenas estar consciente do corpo físico e do
papel social no mundo concreto e político. A partir dessa constatação de que Eu
não era eu, pude compreender muitos fenômenos e os relatos de observadores e
filósofos em suas tentativas de anunciar o indizível e inconsciente para quem
ainda não vivenciou o mistério da consciência de si. O impulso para escrever textos foi um passo
dado sem perceber como ele foi evoluindo e me envolvendo. Eu sei que os
primeiros passos foram dados, em 1988, durante a minha crise de identidade. Eu
escrevia para me conscientizar e também para não perder a razão e enlouquecer.
Tal era o “surto” que me havia acometido. O conflito era grande demais, mas também
não havia como romper e sair do processo, e voltar ao mundo seguro das
explicações funcionais-racionais. Eu havia despertado para uma outra realidade.
Hoje, faz sentido para mim as palavras de Cristo: “Nascer e morrer em vida”.
Morre-se em vida para se renascer numa outra consciência supra-racional, ou
seja, intuitiva, amorosa e bondosa. Um degrau de consciência e existência é
galgado de forma surpreendente: “Muitos serão chamados e poucos os escolhidos”.
No fundo escrevo tentando me fazer entender sabendo que poucos estarão aptos a
compreenderem o contexto que eu quero lhes remeter ou apontar. Um verdadeiro
paradoxo! Escrevo sabendo que os instrumentos que utilizo são extremamente
limitados para operar uma transformação ou metanóia na consciência dos meus
leitores ou ouvintes. Escrevo para quem tiver olhos para ver e ouvidos para
ouvir. Escrevo na esperança de me fazer compreender mais uma vez. Quem sabe
talvez despertando interesses para uma nova caminhada de potencialidades não
reveladas porém latentes – com certeza! Escrevo porque o Verbo quer se fazer
carne em mim. É um impulso incontrolável da vontade soberana espiritual. Por
isso, nunca consegui parar de escrever mesmo quando me decidia racionalmente
parar. No dia seguinte, a força do chamado para voltar a escrever o que sentia
e me encantava. Hoje, sinto um desejo profundo não só de continuar escrevendo
mas também de falar de viva voz nos ambientes que estiverem livres para o ato
de me comunicar e me revelar com fé, vontade e sensibilidade. Uma coisa que
aprendi foi que nunca poderia duvidar da minha fé em mim. A causa para a
eloqüência intuitiva está na fé que se faz Verbo na minha consciência. Assim,
se eu duvidar desse Verbo, eu perco o dom da escrita e nada mais revelarei de
valor. Hoje, rezo para que o Verbo se faça carne no espaço holístico que estamos
criando nas mentes receptivas. E que esse Verbo que nunca me abandonou se faça
presente na minha simplicidade de escritor e orador. O
Verbo-Verdade é indizível mas presente em todos nós! Prof. Bernardo M. da Silva,
Crato, 24/08/2003
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