A EDUCAÇÃO ONDE TODOS
SOMOS NÓS, EU, TU E ELES UNOS (SEM PARTIDO)
Uma educação moderna
se realiza com um compromisso de ação que contemple uma pluralidade de
objetivos, metas e anseios acadêmicos, culturais, políticos, sociais e éticos.
Nesse sentido, a construção, preservação e manutenção de seu patrimônio
tangível e intangível se realiza através de um conjunto integrado estratégico
de planejamentos, organizações, programações, ações e valores coordenados de
modo coletivo e participativo. No mundo dinâmico e veloz em que vivemos o
conhecimento se recicla em períodos cada vez mais curtos. Novas abordagens,
novas visões, novas descobertas, novos atores surgem como forças propulsoras em
busca de novos limites que separam mundos, verdades e paradigmas. A universidade
tem um papel importante na identificação desses limites, na aproximação
gradativa com o essencial que se manifesta subjacente ao aparente ou visível
racional.
Nesse contexto,
faz-se necessário desenvolver nos campus da universidade a curiosidade e o prazer
pela inovação na descoberta de novos rumos e visões que respeitem a pluralidade
da vida e a unidade das leis que regem o princípio da força criadora comum em todos. E para que isso
ocorra, a universidade precisa adquirir a força coletiva de mudança e construção
de novas respostas aos mega-problemas naturais e sociais. Inserida num mundo de
desafios ela tem o seu próprio desafio de se superar na vivência e convivência
de seus atores que também se questionam sobre a sua própria capacidade de
construir e desconstruir modelos contribuindo assim na formação de diversos
significados da realidade interpretados pelos olhos da academia.
Uma universidade viva
é de todos porque ela é a criação de todos no objetivo maior de fazer acontecer
e transcender a cada um de seus atores envolvidos. Faz-se necessário, portanto,
estabelecer critérios, planos, processos, projetos comuns e solidários. É na
força da união de seus membros que a universidade se ergue e socializa o que há
de mais notável em seu projeto: a humanidade dos símbolos e dos encontros refletidos
nos seus gestos, princípios e verdades! A universidade é a humanidade vista por
ângulos humanos diferentes com seus inúmeros pontos de vista da consciência que
se movimenta e se busca incessantemente autodescobrir. Daí a importância de se
criar mecanismos inteligentes que tenham o poder de inclusão de cada membro na
construção permanente de visões diferenciadas mas complementares entre si.
Uma universidade
assim tem por base a força da inclusão sem destruição, ou seja, é verdadeiramente
crítica e inteligente. Isto porque eleva o homem em sua condição de caminhante
na eterna trajetória e escalada da sabedoria maior – cósmica!
Mas, para que ela
cumpra o seu papel formador ético, social e humano, faz-se necessário um plano
diretor constituído em três eixos a saber: o tecnológico, o científico e o
político. O eixo tecnológico diz respeito as tecnologias em seus dois modos de
transformação: social e industrial. O científico como princípio e método de
construção de um conhecimento sistematizado e organizado. E o político como uma
práxis que convida a todos a discutirem e buscarem espaços comuns e públicos
das verdades humanas particulares. Assim sendo, a educação deve ser
indissociável em seus três modos de constituição de sua estrutura: o ensino, a
pesquisa e a extensão. O ensino responsável pela tarefa de transformar e elevar
o nível de conhecimento entre dois pólos de comunicação e aprendizado: o mestre
e o discípulo, o conhecimento e o autoconhecimento. A pesquisa como princípio
da investigação que não se contenta em apenas responder a uma dada questão, mas
antes de tudo de questionar a própria investigação do princípio da
investigação: a formação da consciência de si da própria consciência! E por
último a extensão como ponte que se coloca entre os mundos externo e interno da
ciência; o saber e a solidariedade; a
visão e o mundo; a práxis e a teoria; a academia e a sociedade.
A educação superior
em síntese é a pluralidade, interdisciplinariedade, intencionalidade, transversalidade
de conhecimentos, idéias, pensamentos, concepções, teorias, filosofias na busca
de construção de novos modelos de explicação para o mundo aparente das coisas,
dos acontecimentos, dos fatos, das verdades, dos fenômenos que desafiam o ser
humano a voltar-se sobre si próprio e descobrir-se como ser criador de
realidades multidimensionais e essenciais. O cenário da educação atual exige
uma intensa busca e interação com novos saberes, culturas e modos de ver o
mundo adequado ao espaço e tempo contemporâneo: homem digital, vida ecológica,
ecossistema, efeito estufa, aquecimento global, globalização econômica,
mudanças geopolíticas, conflitos religiosos e étnicos, doenças, crises sociais etc.
A educação moderna precisa perceber que o mundo moderno
carece de uma base ética cósmica universal. A ciência e a religião pouco
poderão fazer se não houver um fundamento ético cósmico que sustente a visão de
mundo desse homem utilitário e insensível. E daí a importância de se produzir
autoconhecimento na busca incessante de atender ao chamado sagrado para se
compartilhar o pão da vida e a interpretar a lei do Espírito. A política
partidária, dos dias de hoje, carece dessa conduta nobre e ética. O que vemos é
uma classe política partidária que está mais preocupada em seguir as regras e
os mandamentos ideológicos dos seus partidos políticos do que de fato
compreender filosoficamente a razão que motiva os homens a competirem e a
lutarem entre si.
O mundo moderno vive atualmente a euforia do progresso da
produção acelerada e do consumo material descartável. Mas, uma análise mais
cuidadosa nos mostrará que existe um limite natural que é o esgotamento da
energia primária (petróleo, gás, álcool, força da água, carvão etc.), devido
principalmente ao esgotamento dos
recursos naturais do planeta. Pois, 1/3 do planeta está em processo de
desertificação, outro terço está cultivado e o terceiro terço em vias de ser
cultivado. Assim, partindo dessa premissa e levando em consideração que do
século XIX (1800) para cá a população mundial foi multiplicada por seis vezes
(de 1 bilhão para 6 bilhões de indivíduos!), podemos inferir que os recursos
naturais estão diminuindo enquanto a população mundial está aumentando.
A qualidade de vida para todos depende de um pacto global
partindo de uma conduta ecológica e humanista onde os ricos cedam para que os
pobres possam usufruir do mínimo necessário. E além disso, os pobres não
poderão desejar os níveis de consumo dos ricos, pois como já foi visto
anteriormente a própria terra é o limite da expansão do consumo e produção
igual para todos. Isto porque, se adotarmos o modelo norte-americano de
produção e consumo para todos os países precisaríamos, segundo os
especialistas, de duas terras e meia para satisfazer a necessidade de todos.
Por isso, uma consciência política (não-partidária), participativa e
inteligente deve nortear as ações do poder público e da universidade pública.
Nesse sentido, a questão social e política deve transcender
a velha dicotomia: capitalismo x socialismo. Ela precisará se basear em
parâmetros éticos, filosóficos e humanistas. A educação de qualidade para todos
é fundamental – em todos os níveis básico, fundamental, médio e superior! -
onde deve-se buscar uma formação sólida e holística no sentido de esclarecer o
ser humano sobre o seu papel no mundo, na sociedade em que vive e no cosmo em
que existe. Assim, o desafio da universidade moderna se torna presente porque
saber significa também ir além do estabelecido, do conhecido, do vivido, do
percebido e do passado. Isso implica dizer, que cada um deve descobrir, no
presente – no agora, a sua missão e o seu dom respeitando os limites da vida e
percebendo que não veio ao mundo por acaso mas para construir com exemplo de
vida uma história, um sentido sagrado para a existência humana.
E a nossa universidade pode nos propiciar um salto de
compreensão nesse sentido. Mas, para tanto temos que largar e deixar de lado
velhos paradigmas e desta forma construirmos uma nova universidade sem a visão
partidária anacrônica.
Prof. Bernardo Melgaço da Silva
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